Anna Valéria Gueldini
Tríade de mulher atleta

Você já teve a menstruação interrompida em períodos de prática esportiva intensa?

Nas últimas quatro décadas, a participação feminina no esporte aumentou significativamente. Diversas mídias sociais fazem a divulgação maciça dos beneficios da prática esportiva. Com isso, há uma preocupação crescente e excessiva com performance esportiva e estética corporal, principalmente no meio feminino. 

A Tríade da Mulher Atleta é uma síndrome que ocorre em adolescentes e mulheres fisicamente ativas. Ela se inicia numa tentativa do organismo da atleta de fazer adaptações físicas e hormonais ao exercício físico intenso. Ela consiste na inter-relação entre a baixa disponibilidade energética da atleta, onde a energia proveniente da ingestão alimentar é menor do que aquela despendida durante o exercício físico, a função menstrual alterada e consequências deletérias na massa óssea, como as fraturas de estresse. 

Essas três condições, isoladas ou combinadas, podem trazer malefícios para a mulher atleta, que quando não se alimenta corretamente para a proposta da performance esportiva, fica com baixa disponibilidade de energia (com ou sem distúrbios alimentares), e assim, mais susceptível a alterações menstruais e perdas ósseas. Foi assim que surgiu esse termo “Tríade da Mulher Atleta”. Geralmente, acomete pessoas envolvidas com a pratica de atividades físicas de alto gasto energético e se associa à disfunção menstrual e baixa densidade mineral óssea. A tríade da atleta feminina e seus componentes podem ocorrer em mulheres de todas as idades em todas as modalidades esportivas.

 

Esses distúrbios ocorrem em 12% a 79% das atletas e são ainda mais prevalentes em participantes de esportes que exigem um biotipo magro e longilíneo, como o balé.

 

Quais são as principais causas desse desequilíbrio?

Os principais fatores que desregulam a balança do que se ingere na alimentação versus o que se gasta nas atividades esportivas são:

  • Baixo índice de massa corporal (IMC)
  • Baixo percentual de gordura
  • Emagrecimento rápido
  • Treinamentos de alta intensidade sem programação específica
  • Esportes de resistência, como a corrida e o ciclismo
  • Dietas restritivas, como a low carb
  • Transtornos alimentares, como a anorexia, a bulimia e a ortorexia
  • Uso inadvertido de medicações e/ou métodos para emagrecimento
  • Insatisfação com a imagem corporal e busca incessante pelo corpo perfeito, influenciada pelas mídias sociais
  • Cobranças psicológicas que aumentam o nível de estresse

Uma redução de 10% no peso corporal pode resultar em uma perda de 1% a 2% na densidade mineral óssea (DMO)

Quais são os sinais de alerta desse desequilíbrio?

  • Irregularidade menstrual, com maior espaçamento entre os ciclos menstruais 
  • Ausência da menstruação (amenorreia)
  • Atraso no desenvolvimento corporal, quando a síndrome se instala antes da puberdade
  • Atraso na primeira menstruação
  • Alterações reprodutivas, com maiores taxas de infertilidade
  • Alterações ósseas, com maior facilidade de ter fraturas, independentemente de quedas (maior chance de fazer fraturas por estresse)
  • Maior risco de lesões
  • Dificuldade em sintetizar proteínas, prejudicando o ganho de massa muscular
  • Alterações na imunidade, com maior susceptibilidade a infecções de repetição
  • Alterações do humor, com maior incidência de irritabilidade, tristeza e isolamento social
  • Prejuízo na cognição, com piora na concentração, coordenação e memória
  • Menor desempenho esportivo
  • Maior afastamento por lesões

A combinação de amenorreia (ausência de menstruações) e exercícios exigentes aumenta a probabilidade de fraturas por estresse: um estudo relatou que 100% das bailarinas amenorreicas que praticaram mais de cinco horas por dia sofreram uma fratura por estresse.

Os critérios que avaliam a densidade mineral óssea (DMO) para mulheres adolescentes e jovens são diferentes daqueles utilizados para mulheres na pós-menopausa. Procure um especialista no assunto.

A adolescência constitui um período crítico para o acúmulo de massa óssea. Em atletas jovens que não menstruam, pode ocorrer uma perda de massa óssea de 2% a 6% ao ano, em vez do acúmulo de massa óssea, resultando num risco três vezes maior de fraturas por estresse. O potencial biológico para o pico de massa óssea pode não ser atingido nesses indivíduos, mesmo com a restauração dos ciclos menstruais.

Se você apresentar alguns desses sinais e sintomas, procure orientação e acompanhamento especializados.

 

Como se pode prevenir a Tríade da Mulher Atleta?

A prevenção desses sinais e sintomas é um verdadeiro desafio, tanto para as mulheres praticantes de esportes de alta performance, como para os médicos que as acompanham, pois a sintomatologia costuma ser muito discreta nas fases iniciais da doença, prejudicando sua identificação precoce. Mas algumas medidas podem e devem ser adotadas para evitar o surgimento e a progressão dos sintomas:

  • Antes de intensificar seus treinos, procure um ginecologista para monitorar o ciclo menstrual e avaliar a massa óssea. Aproveite para atualizar os demais exames de rotina da saúde da mulher
  • Procure um médico especialista em medicina esportiva para determinar a disponibilidade de energia ou o gasto energético x proposta de treino 
  • Tenha supervisão de um educador físico capacitado e monitore a evolução dos treinos
  • Mantenha uma dieta orientada por nutricionista 
  • Tenha suporte psicológico
  • Conte com o apoio familiar

Esse suporte feito por equipe multidisciplinar garantirá um acompanhamento periódico, avaliando e reavaliando as condições físicas, emocionais e nutricionais de acordo com os objetivos, de forma saudável. Assim, haverá um programa constante de análise de composição corporal, identificação de deficiências energéticas e adequação de planilhas, identificação e tratamento precoce nas alterações menstruais, monitoramento da saúde óssea, suporte para alterações de humor, de imunidade e de emagrecimento excessivo, e melhores chances de identificação de qualquer fator suspeito da Tríade da Mulher Atleta.

 

O desempenho do exercício é afetado negativamente por déficits energéticos e o consumo máximo de oxigênio diminuiu significativamente (28%) em atletas de elite durante situações de fome ou desnutrição.

A maioria das adolescentes e mulheres adultas pode obter benefícios importantes em termos de saúde com a prática regular de exercícios, sem estar submetida a riscos para a saúde. E elas devem ser estimuladas a serem ativas fisicamente em todas as fases de suas vidas. 

Porém se problemas clínicos, como interrupção da menstruação ou lesões como fraturas por estresse, começarem a se tornar rotineiros, estes devem ser rapidamente identificados e acompanhados por profissionais especializados e com experiência com mulheres fisicamente ativas.

Atenção! Saúde feminina em dia = melhor performance esportiva!

 

 

Referências:
1. Javed A, Tebben PJ, Fischer PR, Lteif AN. Female athlete triad and its components: toward improved screening and management. Mayo Clin Proc. 2013;88(9):996‐1009. doi:10.1016/j.mayocp.2013.07.001
2. Matzkin E, Curry EJ, Whitlock K. Female Athlete Triad: Past, Present, and Future. J Am Acad Orthop Surg. 2015;23(7):424‐432. doi:10.5435/JAAOS-D-14-00168

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